Agua Morta
Ensaio pré-selecionado de Marilene Ribeiro
Este não é um trabalho sobre fisicalidades (apesar de deter processos físicos para sua construção e apresentação). É um trabalho sobre um lugar que possibilita e sustenta a existência de outros lugares, lugares esses que co-habitam o mesmo tempo e espaço. É um trabalho sobre um lugar de acesso, conexão, fluxo. Meta-passagem. Este lugar físico — o rio e suas margens — que, por princípio, constitui-se um continuum, permite o movimento de seres, partículas e substâncias, bem como trocas entre os mesmos. Liga cabeceira `a foz. Água Morta discorre sobre o trânsito entre este rio (lugarfísico) e outros rios (lugar-vida, lugar-riqueza, lugar-pertencimento, lugar-identidade, lugar-memória, lugar-democracia, lugar-beleza, lugar-aqui-e-lá) — outros lugares que aconteceram no espaço proposto por este trabalho: o espaço do encontro, das trocas entre fotógrafo e fotografado, da confluencia desses todos territórios dentro do tempo fotográfico (ainda outro território, por definição… ou por destino?…, em suspensão).
Água Morta conta a história das hidrelétricas a partir da perspectiva das pessoas que são atingidas por esses empreendimentos em diferentes momentos, no Brasil, juntamente com a minha própria visão, como artista e indivíduo. O trabalho toca na imaterialidade dos custos das barragens como um contra-ponto à percepção da hidreletricidade como energia limpa e sustentável que promove o desenvolvimento e combate o aquecimento global.
Trata-se de um trabalho que desenvolvi em colaboração com as famílias afetadas por projetos de hidrelétricas no Brasil, num recorte tanto temporal quanto espacial, nas áreas dos projetos da Hidrelétrica de Sobradinho (1971–1978, Bahia, rio Sao Francisco, Caatinga), do Complexo Belo Monte (2011–2019, Pará, rio Xingu, Amazônia) e do Complexo Garabi-Panambi (planejado para acontecer no futuro, Rio Grande do Sul, rio Uruguai, Mata Atlântica). Convidei essas pessoas a me dirigirem na execução de um retrato de si próprias, fornecendo informações sobre seu imaginário, sobre como desejam ser vistas pelos potenciais interlocutores deste trabalho e, principalmente, sobre o significado das mudanças vivenciadas com esses empreendimentos. As sessões fotográficas foram baseadas nos testemunhos desses entrevistados, que escolheram o local onde desejavam ser fotografados, um objeto para representar seu sentimento frente à situação que enfrentavam e também sugeriram modificações no seu próprio retrato durante o processo.
As inscrições da Convocatória PEF 2020 estão encerradas. Agradecemos a participação de todos e a confiança no trabalho do Paraty em Foco, mesmo em um ano atípico e difícil como 2020. O resultado final será divulgado no dia 10 de outubro. Veja todas as Fotos Únicas pré-selecionadas: https://www.pefparatyemfoco.com.br/fotos-unicas-pef-2020.